Paicanálise em Movimento - A fala como via de autopercepção na psicanálise
Na psicanálise, a fala é mais do que um meio de comunicação: é o próprio caminho pelo qual o sujeito se constrói e se reconhece. Falar é, antes de tudo, escutar-se. Ao colocar em palavras aquilo que sente, o analisando começa a dar forma ao que antes era apenas sensação, imagem ou angústia difusa. A fala transforma o indizível em algo que pode ser pensado, e, por isso, permite que o sujeito se perceba.
Psicanálise em Movimento
10/13/20251 min read
Freud já afirmava que o sintoma fala — e Lacan, mais tarde, radicalizou essa ideia ao dizer que “o inconsciente é estruturado como uma linguagem”. Isso significa que, na experiência analítica, a fala não é apenas instrumento, mas também conteúdo: é nela e através dela que o inconsciente se manifesta. Cada deslize, cada pausa e cada escolha de palavra revelam algo daquilo que o sujeito não sabe que sabe.
Na vida cotidiana, tendemos a falar para o outro — para convencer, narrar, justificar. Na análise, a fala se desloca: o outro (o analista) está ali não para responder, mas para sustentar o espaço do dizer. É nesse espaço de escuta que o sujeito pode, finalmente, ouvir-se. O silêncio do analista devolve a fala ao falante, permitindo que ele perceba o que diz — e, mais importante, o que repete ao dizer.
Falar, nesse contexto, é se perceber em movimento. É permitir que o que estava preso no corpo encontre passagem pela palavra. É dar voz àquilo que se calou por medo, vergonha ou desconhecimento. A fala cria distância entre o sujeito e sua dor, e é nessa distância que surge a possibilidade de transformação.
Assim, a psicanálise não busca corrigir o discurso, mas acolhê-lo — com suas falhas, tropeços e contradições. Pois é justamente aí que o sujeito aparece. Ao falar, o analisando não apenas conta o que viveu, mas também se reencontra com o modo como viveu. E, pouco a pouco, começa a se escutar de outro lugar.
A fala, portanto, é o primeiro gesto de liberdade dentro do consultório: é o ato de se colocar em palavras para, enfim, poder se perceber.
